terça-feira, 20 de abril de 2010

Violència Doméstica

Há alguns dias assisti a um colóquio sobre a violência sofrida pelas mulheres. Fiquei desde logo desapontado pela imposição de tempos limite para as intervenções e , desde logo, de toda a sessão. Longe vão os tempos em que as pessoas não se impunham limites para a reflexão. Esta atitude algum significado terá na actualidade e não é inocente.

Como sempre acontece em assuntos de foro semelhante, valorizou-se a vertente eficaz e punitiva da legislação que tem vindo a implementar-se. Não nego a importância do enquadramento jurídico, mas não se disfarça o pendor opressivo da orientação da governação do Estado e dos poderes. Quero dizer: reprimir em vez de prevenir.

Tenho que dizer desde já, que, ao contrário do que nem se diz, toda a mulher é poderosa, graças a todos os Deuses.

Digo também que , no processo da violência doméstica, quase nunca há inocentes (exceptuemos os filhos) e todo o seu processo deve ser analisado a montante. Era desejável que nenhum homem se prestasse a ser o vilão, nesta questão da vida comum, em que os parceiros tanto se condicionam mútuamente. Que nenhum homem seja violento para com a companheira, nem que tenha acumulado secretas desrrazões para agir de outro modo. Nenhum de nós se livra de ser violento em alguma circunstância. Afinal somos todos uma espécie de heróis num campo de batalha cada vez mais cruel e hostil. E isso é escamoteado.

Os nossos milhões de pobres correm o risco de se tornarem violentos por força da sua penúria. Os nossos desempregados, que se contam pelas centenas de milhares, arriscam a depressão e acessos de violência. A nossa juventude, cultivada num caldo consumista e insensato, é propensa a adoptar comportamentos agressivos porque tem pressa de ter em vez de ter vontade de ser.

Temos que ter em conta os frequentes equivocos em que se vive a afectividade, seja nos adultos, seja nos adolescentes,seja nas crianças.

Quantos de nós não bebemos os afectos de fontes inquinadas?

Quantos de nós seguimos modelos afectivos, mais que imperfeitos; perversos?

Quantos de nós sabem da subjectividade de amar?

Nesta sociedade em que vivemos, conseguimos ser equilibrados e conseguimos amar?

Quantas vezes sublimamos os atentados diários aos nossos direitos humanos em violência?

Aprendi que, os heróis que somos, se assemelham aos heróis gregos, que, sendo vítimas, eram também, por opções caracterológicas, responsáveis pelo seu destino funesto. É isso que acontece connosco; homens e mulheres deste país onde os cravos murcharam precocemente.

Pede-se às mulheres que sejam corajosas e insubmissas, sempre num propósito nobre, sabendo que há um preço e um risco.
Pede-se a paridade de salários e igualdade de oportunidade de trabalho.
Sabe-se que há homens e mulheres desiquilibrados; que resvalaram para o precipício, empurrados sabe-se lá por que causas. Há que resistir-lhes; afirmar perante eles o nosso, o vosso ego de mulheres, sabendo que o próprio ego pode atraiçoar e afastar-vos do caminho claro e do bom senso.
Dou um exemplo:
Um dia, à noite, um homem foi abordado por outro a quem tinha morrido o pai. Sofria. Confessou ter vontade de bater em alguém. O homem que o escutou imaginou que o outro seguisse o impulso e lhe fosse bater. Felizmente tal não aconteceu, muito devido à conversa que tiveram. Isto que contei vale por dizer que há homens que são violentos por um nada aparente.
Não sejam masoquistas; a primeira violência é já um mau indício comportamental.
É preciso resistir ao medo. É preciso desenvolver a capacidade de VER para lá das aparências.
Mulheres do meu país, afirmai-vos. Que os constrangimentos económicos, os filhos, os companheiros ou os amantes, não consigam impedir-vos de SEREM, autêntica e justamente. Que , no meio de tanta reivindicação paritária não exibam os defeitos dos homens contra os quais dizem bater-se. Lamentávelmente, apreciando as intervenções e atitudes das mulheres que ouvi, fiquei com impressão de que no coração delas não havia lugar para um homem. É pena.
Que a justiça e a punição sejam o último recurso da Humanidade.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

arquitectura luminosa

Estou preocupado com o que possa ser feito no Mercado do Bom Sucesso. Quem já lá entrou em Setembro e pôde à tarde ser banhado pela luz oblíqua que penetra toda a fachada envidraçada daquele edifício precioso ? Que farão daquela casa ?
Parece-me que estamos todos distraidos e quando algo de indesejável acontecer seremos surpreendidos. É pena que corramos esse risco.
Também no Bolhão, parece-me que se deveria manter a traça original e até respeitar a forma e estilo daquelas barraquinhas centrais em madeira e com os seus pequenos telhados de xisto. Talvez só assim se preserve a memória e a beleza do lugar emblemático. preservar sem mudar muito parece-me o lema desejável.